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Qual o segredo para produzir um dos melhores queijos do mundo?

A resposta está numa propriedade rural de Cruzeiro da Fortaleza, município de cerca de 3.600 habitantes, na região de Araxá

Edelson Borges
De Araxá (MG)

À entrada do sítio da Família de Wellington Carlos Vieira, conhecido por ‘Casquinha’, um caminhão Chevrolet (da série 6500), produzido no final dos anos de 1950, no Brasil. Veículo em processo de restauração e em funcionamento. Primeiro sinal de que o local é diferenciado. Estamos na sede da ‘Queijaria Casquinha’, uma das propriedades que integram o Circuito do Queijo Minas Artesanal, certificado pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, no último dia 04/12.

Wellington Carlos, o ‘Casquinha’, ao lado do caminhão do filho mais velho

O cuidado com o velho caminhão, de propriedade de João Batista Vieira Netto (filho mais velho de Casquinha), tem como objetivo transportar o cavalo, da irmã caçula, Maria Cecília. A amazonas mirim gosta de participar de cavalgadas pela região; quer se tornar médica veterinária, justamente para cuidar, ainda melhor, das vacas que fornecem o leite para a Queijaria. São cerca de 2.400 litros/dia; 210 queijos, em média. Praticamente toda a ordenha do leite é destinada à produção dos queijos, que têm mercado garantido na região e na Capital, Belo Horizonte.

O cuidado e o zelo com o antigo demonstra a preocupação com as origens. O veículo pertenceu ao sogro de João Batista. Resgatou o caminhão abandonado para compor o cenário da Queijaria dos pais. João não faz parte da lida diária da propriedade rural, mas, o irmão, Daniel, sim! Assume várias funções, inclusive, a de cuidar da alimentação dos bezerros. A mãe, Telma Inez Vieira (esposa de ‘Casquinha’) cuida da área administrativa.

Casquinha, com a filha, a esposa e técnico da EMATER

Numa propriedade pequena, com 18 hectares, ‘Casquinha’ tem 85 vacas em lactação. Começou com três animais, herança de seus pais João Batista Vieira e Dona Maria Abadia Braga Vieira.

Há dez anos, em 2014, ‘Casquinha’ foi vice-campeão mineiro em um concurso de qualidade de queijos. Naquele momento, não houve o reconhecimento e o trabalho que o Governo de Minas Gerais fez [e, continua a fazer] de acompanhamento [através da EMATER] e marketing para divulgar Queijo Minas Artesanal para o Brasil e o mundo.

Queijo Minas Artesanal produzido em Cruzeiro da Fortaleza, na região de Araxá

UNESCO – A Certificação Mundial pela UNESCO, do processo artesanal e o modo de fazer do Queijo Minas, vai muito além de técnicas. A produção segue métodos tradicionais, que são e foram passados de geração em geração. A ‘cereja’do bolo [no caso, do leite], seria o processo de coagulação, feito com o Pingo: um fermento natural obtido a partir do soro do próprio queijo. E, depois de fabricado, os queijos entram em estágio de maturação. Cada um a seu tempo. E, o tempo em Minas corre com menos pressa…[Devagar, também é pressa…].

O Modo de Fazer Queijo Minas Artesanal tem a ver com as origens de Minas… a nossa mineiridade. O escritor João Guimarães Rosa, em Grande Sertão Veredas, sentenciou: “O real não está no início nem no fim, ele se mostra pra gente é no meio da travessia”.

Produzindo queijos, proseando à beira da taipa de um fogão a lenha, degustando alguns goles de cachaça, Minas produz e oferece o que há de melhor no ser humano: o AMOR. Eis o segredo: AMOR! Amor na lida com os animais. [Devemos incluir, ainda, uma cadela Pitbull e seus mansos filhotes; todos extremamente dóceis]. AMOR espalhado no seio familiar. AMOR que atravessa gerações. AMOR por Minas.

AMOR pelo interior de Minas. “Sendo assim, o mineiro há! Essa raça ou variedade, que, faz já bem tempo, acharam que existia”, escreveu Guimarães Rosa, em 1957, na Revista ‘O Cruzeiro’, em seu texto Declaração de Amor a Minas Gerais.

QUEIJARIA CASQUINHA – Essa Marca [Queijaria Casquinha], no entorno de Araxá, é sinônimo de excepcional produção de queijos artesanais. Região de Dona Beija, mulher nascida em Formiga, responsável por trazer o Triângulo Mineiro para as Minas Gerais. Antes, a região pertencia ao Estado de Goiás. – Paixões que removem montanhas, campos e cerrados…

Minas é isso: são muitas e, ao mesmo tempo, é única.

 

Fotos: TurismoMG
Imagens de Drone: Walfried Weissmann

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